O mundo é sensorial mas nem tudo é por causa do sensorial

Postado por Marina | 08 Abr 2023 |Integração Sensorial

     

                  

         Recentemente, tanto na minha prática com meus pacientes e equipes terapêuticas, como também por acompanhar muitos terapeutas em supervisões e mentorias, sempre me deparo com discussões importantes do tipo “A equipe não sabe o que fazer e está ‘culpando’ o sensorial”. Vamos dissecar sobre o assunto? Aposto que você está passando pelo mesmo, já passou ou ainda vai passar por uma situação semelhante.

         Que o mundo é sensorial a gente já sabe. Os pais já sabem, a escola já sabe, bem como os demais profissionais da área da saúde. Mas nem por isso significa que toda dificuldade que a criança está apresentando, seja em qualquer contexto/ambiente, é por causa do “sensorial”. Eu gosto de trazer essas discussões, porque acredito que desta forma a gente eleva o nível das discussões terapêuticas, bem como esclarece o que é competência de cada área, eliminando a pressão, muitas vezes, imposta de maneira equivocada. 

         E, pra isso, vamos discutir de um ponto de vista técnico?

         O que é “sensorial”?

         Sensorial é tudo! É tudo o que nosso corpo é capaz de perceber através dos nossos sentidos que, sim, sabemos que vão além daqueles cinco que aprendemos na escola. Logo, perceber sons, cheiros, toques, movimentos, objetos, sensações internas é sensorial. Sem o sensorial, não teríamos associações de sensações com emoções, sem interpretar as sensações não associaríamos o que vemos ao que está diante de nós e por aí vai. Mas isso não significa que a criança não parar quieta e sentada é “por causa do sensorial”, tampouco se ela não responde às demandas do ambiente. Pode ser que sim? Essa resposta é óbvia! Claro que sim!

         A criança terá dificuldades no seu dia a dia caso ela não consiga integrar, modular, discriminar sensações, criar novas ideias de como se movimentar diante de desafios motores, por exemplo. Aqui falamos de crianças com Disfunção de Integração Sensorial. Que sim, podem apresentar as dificuldades que acabei de mencionar acima - não conseguir ficar parada e necessitar de movimento ou não conseguir responder às demandas do ambiente. Mas também é MUITO verdade que diversos fatores influenciam nossa interação com o próprio corpo ou com o ambiente e posso trazer algumas aqui só de exemplo, como nossa capacidade intelectual/cognitiva e comunicação, comportamentos aprendidos, bem como influências do contexto. 

         Eu sou a profissional que me coloco sempre quando essas demandas e “culpas” são direcionadas a área : tento compreender a dúvida do colega, analiso o contexto em que a criança está inserida e, então, a partir do meu direcionamento terapêutico explico se aquele comportamento que a criança está apresentando é ou não devido ao quadro de Disfunção de Integração Sensorial. Porque muitas vezes a criança pode estar agitada em determinado contexto porque ela não consegue se comunicar, porque ela está muito eufórica com a demanda social, porque o comportamento foi reforçado, ou porque ela não consegue modular de forma adequada sensações. 

         Mas esteja sempre atento e não seja mais um profissional a contribuir com a desinformação do que indicam como sendo de causa sensorial. (A vontade é grande de listar cada absurdo que já ouvi na minha prática e acredito que você também!). E, caso você tenha dúvidas se é ou não de fundo sensorial, eu recomendo fortemente que você esteja sempre atualizado sobre os prejuízos de desempenho ocupacional causados pelos quadros de disfunção sensorial e busque SEMPRE apoio técnico/científico na sua prática profissional. 

 


  • Marina
    Descobri desde nova o que queria ser - terapeuta ocupacional. Através dessa ciência e profissão me realizo. Fui atrás de muita capacitação: mestrado, certificações, pós-graduações e cursos. Junto ao amor à profissão, quero alcançar o máximo de pessoas possíveis com as ferramentas que tenho. Hoje administro a clínica Interagir em Curitiba, local onde uno esse grande quebra-cabeças.

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